Na ocasião em que nos conhecemos no Rio Grande do Sul, o Vicente estava chegando de Londres.

Logo, logo ele foi fazer uma desintoxicação numa clínica psiquiátrica.

Ele só dormia lá.

O meu coração teve um entendimento muito rápido de que aquele homem seria minha cara metade.

Mas como quem pensa não casa, eu resolvi fazer uma única viagem.

Without my mind.

O meu coração foi meu grande mestre.

Logo que constatei que não seria fácil me veio novamente a Polyana

Se esta é a realidade eu sou feliz.

E nunca mais deixei de ser feliz...

Este é um caminho sem volta.

Quando você faz o seu coração agir. Cor-agem, coração aja!

Como o Vicente ia ficar mais tempo no Rio e a Zenia veio pra Porto Alegre,fui parar numa pensão de uma senhora portuguesa em Botafogo só para ficar perto dele.

Senti que nós tínhamos sobre nós um símbolo do infinito.

Falando assim me dá muitas saudades e as lágrimas correm.

Durante a manhã ele me telefonava e me dizia:

- Estou tomando meu breakfast aqui no Copacabana Palace. Vem pra cá!

Lá ia eu bem feliz me encontrar com my sweet lord!

Ele tinha uma cultura muito diferente.

Hoje com a internet, penso que ele era um catalisador de notícias.

Sabia tudo o que se passava por trás dos panos da política.

Comecei a conhecer um lado dos Goularts que eu não imaginava que existia.

A minha sogra, Dona Tarsila Goulart do Valle, era irmã do Jango e da Neusa Goulart Brizola.

O meu sogro, João Luis Moura Valle, redator político, escrevia os discursos do Jango, ele articulava junto com o Jango. Em 1954 ele já havia tido um problema com o Dops, como estudante de jornalismo aqui no Sul.

Também foi redator político do Diário de Notícias do Rio Grande do Sul, onde confraternizava com políticos e com jornalistas como Say Marques, fundador da Feira do Livro em Porto Alegre, entre outros.

Quando ainda moravam no Sul, antes do Jango ser presidente, ele fundou a Rádio Pampa que na época só tinha um piano de cauda com um pianista e um noticieiro.

Ele mandava tocar músicas que seus seus filhos pequenos gostavam, o dia inteiro na rádio.

Minha sogra, de uma família de sete irmãos, cinco mulheres, que chamavam de bouquet, que tinham três irmãs mais velhas e duas bem mais novas que eram a minha sogra e a Neusa.

Dois irmãos, um bem mais moço, Ivan Goulart e outro do meio que combinava de idade com as mais moças, era o João Goulart.

De uma família muito abastada, pois o pai deles, Vicente Goulart, campereava entre Santiago do Boqueirão, Itaqui, São Luis, comprando enormes lotes de terra.

O Vicente se criou neste seio de políticos sendo que tinha o Naio Lopes de Almeida, outro genro da família, que também era político.

Sabendo através da mãe e das tias que tomavam cafezinho todos os dias as 11h da manhã e conversavam sobre tudo que estava acontecendo, ele adorava ficar sentado entre elas, só se divertindo com os loqueteios das tias, era uma delícia, que também tive o privilégio de participar!

Logo nesse primeiro contato com ele me dei conta que ele era um menino, com olhos negros, sombracelhas negras, cabelo da cor da ave da graúna, dentes lindos e sapeca!

Sempre estava pronto para rir, para inventar alguma nova brincadeira.

Via, mesmo lá no RJ, que a vida perto dele seria agitada e meu coração também deixou levar...

Quem pensa, não casa!

A minha amiga Zênia, que se encontrava em porto Alegre me ligava e dizia:

- Não volta, se não teus amigos daqui não vão te deixar casar!

Realmente eu tinha uma turminha em Porto Alegre, que era do barulho!!!

Tínhamos uma velocidade de nos comunicar que todos sabiam o que estava acontecendo com cada um, sem internet hein!

Talvez nós fóssemos as peças que estavam se montando para uma cibernética, como se criou...

Eu, por minha vez, estava tão encantada com o Vicente e ele comigo que não víamos que a própria família estava com medo desta relação, pois tinha mais estrada que ele...

Mas continuei meu caminho, lépida e faceira! Para nós, tínhamos uma coisa em comum, companheirismo.

Nós queríamos ter uma estrada feliz.

Sem pensar que teias estavam sendo armadas para nos separar.

Brincávamos o dia inteiro. Comecei a ir todos os dias de tarde ao cinema com o Vicente.

Ele adorava cinema!Era um roteirista nato.

Fazia da sua vida, seu próprio roteiro e como era bom desafiante e alegre estar ali.




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2 comentários:

    clarice ge disse...

    Qualquer hora re-leio tudinho. Martinha querida, não é de graça que te gosto há eras, rs. Gosto destes teus "insights"... desta tua maneira de ver o melhor em tudo, de "sacar"...
    bjsss, saudades!

  1. ... on 2 de junho de 2011 às 03:27  
  2. Anônimo disse...

    tou amando te ler... ;-))
    bjão,
    Ida

  3. ... on 11 de junho de 2012 às 13:26