(Pequena pausa para um auto-retrato)


Sempre busquei o selvagem coração da vida.


Fui espoleta quando criança, quando mocinha, quando casada e mãe...


Esse caminho foi tão intenso quanto longo – embora, na época, tudo parecesse eterno e rápido demais.


Quando eu estava vivendo a relação com o meu primeiro grande amor, as brigas começaram e eu enxerguei que rumava para o final. O que existia entre nós era uma admiração mútua pelo belo, Só!


Não era pouco mas, não era o bastante.


Éramos um bando de amigos – amigos mesmo! – que nos finais de semana (e às vezes até durante os dias de semana) íamos na casa um do outro até formar um grupo que acabava direto no nosso objetivo mais interessante: uma reunião da mansão dos Noronha!


Diversão garantida... Tínhamos tudo o que se pode ter nessa idade: bonitos, ilustrados, bem-educados e, sobretudo, sortudos por termos vivido a nossa juventude naquela época, um tempo extremamente rico.


E a juventude ÉÉÉ... a época da transformação. Combinávamos idade e o tempo que nos coubera viver.


Houve o momento, em que surgiu o amor, fruto pleno, ao qual muitas vezes não chamamos de “o primeiro” porque nos eventos de nossas existências ele, como episódio, acaba sendo o segundo, o terceiro... Mais tarde é que vamos perceber que foi, realmente, o verdadeiro “primeiro amor”.


Meu marido Vicente Luiz, foi o terceiro de dois malfadados relacionamentos. Chamo de primeiro, porque a relaçáo teve começo, meio e fim.


Logo que casei, fiquei grávida da Sybil, o Vicente como não sabia dirigir, me deu um carro. 


Andávamos de carro para lá e para cá, e, assim, íamos ao Uruguai, a São Borja, à praia.


Enquanto a minha barriga crescia,fomos também de caravana visitar a Nereida e o José Vicente, que moravam na Fazenda do Brizola.


O Vicente, por sua vez, era frajola (gíria da época querendo dizer do sujeito extremamente leve, divertido, bem-vestido, tudo nele vinha carregado de uma simplicidade extrema, coisa de raízes mesmo, poooorémmm, nunca a vi mais cara .


Vivia procurando coisas que o fizessem rir. 


Montava o circo e depois sentava para se divertir.


Adorava viajar, portanto até quando minha sogra falecer em Buenos Aires, (14 anos), viajamos sem parar.


Ele amava roteiros, caminhos novos, armava eles com os amigos, e curtia muito aquilo. 


Sempre era muito divertido conviver com ele. 


Amava a vida, era um príncipe com sorte. 


Sua alma de aventuras casou-se com a minha alma de cigana.


Era rico de espírito, portanto, seus bolsos estavam eternamente abarrotados para assegurarem as necessidades do próximo roteiro.


Com a filha, Sybil, pequena, geralmente estávamos na estrada ou no ar.


Só não ia à Europa conosco, acho que foi um erro.


Ele me deu tudo o que tenho hoje; me deu a filha, que é a minha luz, ela clareia meu caminho, me ensinando a lutar por respeito (os homens não respeitam as mulheres, ainda mais no campo, na zona rural, onde também vivo um pedaço da minha vida) e a lutar por justiça, uma vez que não abro mão de ter uma visão mais ampla do que de fato desejo para o futuro.


Com o Vicente, tudo era excitante: meio que um desafio, meio que fantástico, meio surrealista. Em nenhum momento, os instantes passados ao seu lado deixaram de ser suntuosos e desafiantes.


Mesmo quando tínhamos os bolsos vazios.


Tais caminhos – lá no passado – acenam com suas trilhas neste presente de memórias e promessas ainda vivas.


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