Na parte externa da mala, o adesivo: “Brasil, ame-o ou deixe-o”. Amo o Brasil, e o estou deixando. Por fora, uma moça com as luzes da beleza. Por dentro as sombras de um inverno em Edimburgo.

Vivo a primeira tomada de consciência, em que a vida não estava, até então, me concedendo nenhuma escolha.
A força da juventude contrastava com a excessiva força dos que decidiam os destinos de um país que nos mandava embora.

A necessidade de arrasar pelo mundo atrás de novos universos contribuiu para que eu desse o salto quântico. O que me segurava? Nada nem ninguém. Mas, que estou deixando? 

Penso no livro de Hermann Hesse, “ Demian”, que li quando tinha14 anos.

“A ave sai do ovo, o ovo é o mundo. Quem quiser nascer tem que destruir o mundo.”




Mas o que queria dizer isso? Como é que eu iria nascer outra vez e ainda por cima, encontrar o novo ser em mim? A pergunta ainda persistia, insistia dentro de mim.

Fui ao psiquiatra.

Depois de algumas consultas e de tontear o pobre, obriguei-o a me dizer que “para me encontrar eu precisava ir atrás de mim.” Assim ficou mais fácil. Destroçada, em vários sentidos. Tinha perdido o grande amor. Minha melhor amiga, estava acidentada.

Enfim, a vida estava, no fundo, me dando uma oportunidade. Porém, para mim, literalmente meu mundo caiu.

Minha mãe não aguentava mais a minha tristeza e a minha solidão. Com todo jeito, encontrou outro psiquiatra que pudesse ajudar a eu me encontrar.

Após alguns meses de terapia, ele depôs as armas. Me disse: “Marta, tu precisas te encontrar!”

Pensei: “este também não pode me ajudar. Eu é que preciso me achar” (como era difícil aquilo!). Me encontrar... Me encontrar...

Fui para casa, caminhando, pensando, pensando, quase numa vertigem.

Encruzilhada. Tinha 22 anos e ainda não sabia o que era “me encontrar”.

Voltei para casa com a música do Lou Reed na cabeça. “hey babe, take a walk on the wild side. (...) And the call girls say, doop doo doop, doop, doop...”




Chegando, fui direto falar com minha mãe.Sentei-a na sala de estar e fiz com que ficasse quieta, atenta ao que eu tinha a dizer: “Mãe, o psiquiatra me disse que eu tenho que viajar.”

Como é que eu poderia me encontrar se não viajasse?

Ela me perguntou por que eu não ia à Bahia.

Não... É muito perto, e para que valesse toda a instrução que me deram – curso de inglês, curso de francês na Aliança?... 

Meu sonho entre casar ou morar em Paris. "Neste momento, mamãe, está decretado. Paris!”





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2 comentários:

    Marta Schönfeld disse...


    Guita Braude Martinha e lendo o teu lindo texto se entende quando o ser.humano necesita uma transformacao em su vida.Gostei demais querida, parabens e bjs

  1. ... on 23 de fevereiro de 2013 às 20:56  
  2. Marta Schönfeld disse...

    Alfredo Daudt Tá mandando muito bem, Marta. Que maravilhosa sensação a gente poder sentir-se próximo da história que vc narra.

  3. ... on 24 de fevereiro de 2013 às 20:16