Começava a me perguntar:

Por que este caleidoscópio de personagens e de lugares?


Na verdade fiquei tão encantada ao pisar em Paris que me abri para todas oportunidades.

As vezes achava um pouco demais, as atidudes cuja a escolha se dava num rompante. Era incrivel: uma hora num castelo e outro sentada naquele pátio sujo de Vincénnes.

Geralmente me agregava a algum grupo, sentava num cantinho do muro, só escutando. Ali aprendia. Era um conhecimento mais geral, pois haviam muitos jovens com problemas também em seus países.


Aprendi a frequentar programas populares, de música, teatro, exposições, com pintores e escultores de vanguarda.


Reconhecia a importância de saber levar a vida de modo um pouco menos sério, tipo deixa rolar, que eu vou junto.

Dentro de mim começava a cogitar se eu queria casar "no Brasil" ou ficar no exterior.

Já ia completar 24 anos e estava ferrada.


No Brasil, as mulheres casavam com vinte e um a vinte e três.

Depois dos 25 nos estávamos fadadas a ficar solteironas.


É, eu tinha que pensar um pouco.


Como o meu amor pelo Roni era somente uma paixão e ele ainda por cima vivia com uma paulista de 42 anos, que era muito velha, ele tinha 28, não era uma coisa certa.


Mas era bem divertido!
Pensei sério:
Não vou terminar este curso.
Não vou casar para perambular pelo mundo.
Desta vez está decretado, prefiro ficar até solteirona no Brasil.Será que eu precisava voltar correndo para o Brasil?                                     

Ainda não tinha vivido plenamente os anos 70, portanto tinha muita coisa ainda pra participar na Europa.


 As músicas francesas, modernas, não me seduziam muito. 





Comecei a me dar conta que Paris, que a França, era totalmente aristocrática.


Não tinha um poder de sedução, mesmo Paris, para um mundo que fazia uma "Laranja Mecanica" e "Blow Up".


As óperas rock, como "Tomy", "Hair".






Em Paris tinha aquela parte maravilhosa, que era Paris, em cada esquina, em cada momento uma novidade dentro daquele museu aristocrático.

Comecei a pensar:

Londres... Londres...

Talvez eu estivesse um pouco melancólica, com saudade dos meus pais e dos meus amigos.


Resolvi não realizar muito bem, porque como eu disse, eu estava a favor do rio.


Logo, não podia parar.


Mas a vida em Paris estava muito boa, arranjei dois amigos novos que faziam programas diferentes.


Um, o José, espanhol, daqueles que queriam derrubar Franco.

E o outro, Dennis, uma gay de 20 anos que me divertia com ele no café The Flower durante o dia.


Inventavamos passeios pelos parques, iámos as exposições, entrávamos em museus.


Como não tinha telefone, quem queria falar conosco, comigo e com a Bete, tinha que escrever no bloquinho da porta.

José sempre dizia:


"As 9 estarei te esperando na beira do Sena, na ponte em frente daqui".


Quando descia, tinha que descer as escadas até a beira do rio no escuro.

No arco da ponte com a sua capa preta, era de arrepiar a figura, parecia aqueles "homens de preto, tocando a boiada".


Só que a boiada que este queria tocar e deve ter tocado, era de guerra, com este desafio, não corria perigo físico. Só poderia ser extraditada e presa no Brasil, que era uma coisa que eu não queria na minha vida, também.


Mas continuava sempre indo as reuniões com José.


Elas eram na cave de um restaurante espanhol, em Mont Matre, onde eu escutava idéias de espanhóis tão aguerridos.


Já estava há 6 meses em Vincennes e como em tudo na minha vida, já estava achando que estava um pouco demais.

Se as aulas eram essas, de concientizar sociologicamente o mundo deles, eu estava concientizada.

Mas o meu mundo, eu não queria abandonar, por isso me calei tanto tempo.

Afinal de contas eu pensava no Brasil:


Imagina eu, com uma metralhadora nos braços, no meu país!


Afinal de contas, nunca fui uma Viva Maria.

Eu com minha alma inquieta, achava que já estava terminando o meu ciclo em Vincennes.

Paralelo a tudo isso eu conheci o Gil Ouro Preto que era tipo o segundo embaixador do Brasil na França.


Ele gostava de mim, como pessoa.

Se divertia comigo, com as cosas que eu dizia.


Ele, ao ter sabido que eu estava ficando bastante envolvida em políticas, ficou preocupado.


E cada vez que nos encontrávamos ele voltava a esta tecla.


E ainda me perguntava:


Mas o que você está fazendo com os espanhóis?
Eu dizia:
Aprendendo!
Ele ria e perguntava:
Mas porque você não anda com os exilados brasileiros?

Respondia:


Porque eu tenho medo que eles estejam sendo vigiados. Então estou aprendendo.

Do Brasil, eu tenho uma cadeira com o sociólogo Josué de Castro, que escreveu geografia da fome, só acho o livro dele um pouco complicado, isso falando num pequeno restaurante, com tudo que se tem direito.


Para mim a vida é assim, quando não conheço uma coisa, quero conhecer.

As minhas profissões, duram de dois a três anos e também não sei se vou poder terminar esta história que está se tornando a história sem fim.






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