Não tem um dia que não tenha que se enfrentar mais uma batalha. Bendigo o dia que vou passar,mas grossas nuvens começam a cobrir o meu céu. 

Ahhhhhh! É assim...ou "Let the sun shine in"



   

Esta música é sempre aquela que eu mais gostaria de escutar, quando estou no meio de uma tormenta. 

As escolhas dependem do equilíbrio: ou pra lá ou pra cá... 


Com minhas andanças aprendi a honrar a sabedoria dos ancestrais. 


Aprendi a respeitar a dança do sol, a roda da cura com os índios, povo nativo. Os membros de cada tribo me deram a sua sabedoria, adquirida através da experiência.


Aprendi a andar na jornada da boa estrada vermelha da vida física. Aprendi que nosso espirito é feito de vento. 


A roda da cura prevê um tempo de novos ciclos, ou então, de movimento. 


A terra de São Borja, com seus ancestrais, índios pampeiros, Guaranis, que traziam na sua flecha o caminho de todas as oportunidades, me mostraram o alvo de onde eu deveria atirar a minha flecha. 


Quando estou no campo, sempre resgato a minha companheirinha, para vivermos mais uma aventura. 





Ela sempre me olha com olhinhos brejeiros, faz sinal com o dedinho me mostrando um mundo que não podíamos imaginar, quando ainda fazíamos aventuras em Paris. 


Não importa onde estamos, por toda parte a vida nos chama, a todo instante estamos cercados por formas de vida que procuram se comunicar conosco, para isso, precisei aprender com os índios onde atirar a minha flecha, porque a minha compreensão lógica, matemática nunca funcionou pelo meio dos números, sempre pelo total.


Sentada na beira da lagoa de propriedade da família Goulart, sendo eu a guardiã daquele tempo, tive que entender a caminhar como os índios.





Tinha que caminhar nessa linha, respeitando o avô Sol, a mãe Lua. 


Depois de uma semana em São Borja, no hotel Charrua, onde ficava hospedada, na frente da pracinha principal, onde tem a sorveteria, padaria, churrascaria e o bar dos velhinhos, onde todos eram "pinguços" - mas como era bom a aquela cachacinha no final de tarde, aquelas conversas de fazenda, histórias sobre a terra - aprendi a entender o canto do quero-quero, que sempre por onde passava me saudava, me deixando sempre muito feliz.


Ali estavam todos os amigos que eu tinha, nada de alguém gardalhão, de nome e sobrenome.... Pessoas da terra, amigos, amigos da terra. 


Ali nos encontrávamos para contar causos, rir, tomar chimarrão, tomar pinga com os velhinhos, sentar numa mesa de várias idades de 80 a 17 anos, enfim, aliviar as tensões das funções que eu tinha com os papéis, durante o dia.


Sempre que queria ir para a fazenda tinha que alugar um carro do seu Netinho. 


Quando ligava para ele, ele já levava um susto, pois um dia eu voltei com o motor do carro na mão, tal era a estrada até a fazenda, mas enfim, acabava me alugando. 


Entrava na estrada com aquele sentimento de liberdade, sentindo aquele vento puro, aqueles campos verdes, com soja, com gado, lindos, fortes, com pôr de sol, com a lua e estrelas, o grande poder da terra. 




Uma vez uma índia de lá, tomando chimarrão, me disse, sobre meus problemas com a fazenda: Não te preocupe, pois quando a terra não é do dono, ela mesmo expele. Por isso, cada vez que chegava na porteira da fazenda, saia do carro, sentindo os quatro ventos dos espíritos e pedindo para os ancestrais me receberem e ajudarem a mantê-la.


Na beira do lago encontrava novamente a minha amiguinha que estava sempre pronta pra brincar, me olhava com aqueles cachinhos dourados e dizia, vamos brincar de encontrar cristais? 


Enquanto saltávamos pra lá e pra cá pegando as pedrinhas cantávamos "Se esta rua se esta rua fosse minha... Eu mandava eu mandava ladrilhar...Com pedrinhas com pedrinhas de brilhantes...Para ver para ver meu amor passar"...





Nós duas brincamos tanto, rimos tanto... até que quando ficamos cansadas, encontramos uma pedra, onde sentamos de frente para o sol poente que numa revolução feérica de cores alaranjadas, posaram nos cristais que havíamos encontrado. 

Tudo se transformou numa grande magia, as cores eram o desfecho da grande brincadeira, ali sentimos a sensação da totalidade. 


Olhei para a terra, com um grande cristal na mão, brilhando com a luz do sol e senti a energia pura da mãe terra, criação divina e pensei: A terra é da terra, ela nos leva, eu não posso carregá-la para Porto Alegre, posso carregar esse cristal, mas ela fica ali, inexorável ao tempo e as explorações. 


Naquele momento me senti somente a sua guardiã. 


Não tem dia que não se atravesse uma grande tormenta, ou um eclipse ou uma grande felicidade. 


Quando amanheço bendigo o dia que vou passar, às vezes, grossas nuvens começam a cobrir o meu céu, eu pergunto:


É assim ou "Let the sun shine in"? 


Esta é a música que me vem a lembrança de toda a felicidade dos anos 70 e sempre que estou no meio de uma tormenta, cantarolo durante os dias que estou passando por ela. 


As escolhas dependem do equilíbrio ou pra lá ou pra cá. Dá licença, que está voando aqui um passarinho azul.






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