O verdadeiro olhar é o filosófico, o verdadeiro ouvido é o musical, e a perna mais bonita é a que sabe dançar um samba.





Quando escrevo, minha primeira preocupação é que o texto flua como um rio, para que o leitor ao menos possa nadar. E sem jamais, nunca, afogar-se. Ah, e não adianta se agarrar em nenhum galho: isso só retardará a chegada.

Parti para escrever como quem parte para mais uma de suas aventuras. Querendo contar os ásperos e doces caminhos por onde andou meu coração selvagem.

“Se hay gobierno, soy contra.” Desgovernada, sigo o único caminho confiável, que é o do meu coração bandido. Uma certa perdição. Sempre disse para os meus amigos que adoooro ser louca. Para isto, sou bastante organizada.

Lembram do filme Alice Não Mora Mais Aqui, de 1974, e dirigido por Martin Scorsese?

Alice era uma viúva que fez de tudo para criar seu filho. Foi cantora, garçonete... Sempre estava mergulhada num relacionamento complicado.

Durante um desses casos, teve que se mudar de cidade. Foi para um pueblito no Texas, comprou um trailer, fez dele a sua casa e um boteco que era o ponto de encontro no meio do deserto.

Com o filho criado e mais um tumultuado relacionamento, um dia, na hora de fechar o trailer, colocou, sem prévio aviso, uma tabuleta: “Alice não mora mais aqui.” E foi embora.

Mas isso é só a trama básica. Pano de fundo para que a personalidade de Alice brote na tela e na nossa memória.

A mesmice sempre foi a minha inimiga. Quando vi que ela poderia me pegar, fiz como Alice. Como no filme, que me marcou como profundamente me marcaram os espaços que abracei, espaços sempre novos aos quais hoje também abraço – e só os espaços marcantes são os que procuro – sou uma espécie de Alice renovada.

Artesã, fazendeira, taróloga... Enfim, sou uma arteira. Sabiamente burra.

Alice e eu não moramos mais aqui. Ou ali, endereço previsível.

Na minha placa de madeira desenhei uma bruxinha voando em sua vassoura, e foi isso.

Quando chega a Lua Cheia, pego a vassoura e saio voando por mundos desconhecidos. Assim, nada fica monótono. Como neste blog, terra do nunca e do sempre.

Quem é esta mulher que jamais se completa? Minha história é um caleidoscópio: ela tem sol, ela tem chuva, arco-íris, grandes alegrias e grandes tormentas.

Cada dia para mim é um novo universo. A natureza me remete a milhares de luzes e sombras. O caminho da luz passa por todos os aspectos da escuridão.

Nada é como ontem, nem visto de longe.

Agora que a história começa.

Falarei do ontem.


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3 comentários:

    Sybil Schonfeld do Valle disse...

    Explode coracao!!! Muito Sucesso!!!!

  1. ... on 30 de junho de 2009 às 04:08  
  2. Paulo Bentancur disse...

    Marta!,

    que maneira impressionante de começar um post, de abrir a "porteira" de teu blog, de teu portal com tantos blogs. Tem razão a Sybil, comentando acima de mim, o "muito sucesso"! Garantido. Com um texto tão bem escrito, cheio de reminiscências, imagens que evocas e reflexões fundas nas quais mergulhas com fôlego, o sucesso é mais que garantido. E será, mesmo, muito. Sorte nossa, internautas viciados, que agora temos mais um interessantíssimo espaço para visitar. E conviver. Beijo.

  3. ... on 13 de dezembro de 2009 às 11:30  
  4. Anônimo disse...

    Um segundo começo nunca é igual ao primeiro, por princípio simples e básico: É O SEGUNDO!!! Carla Volkart

  5. ... on 19 de junho de 2010 às 20:26