Tínhamos várias turmas, uma da escola, outra na praia, outra no Clube de Cultura, no Encouraçado Butikim, além de uma outra... em Buenos Aires!

Contabilizando, eu e a Nereida Daudt resolvemos também ser mulheres de negócios e, com iniciativas inéditas. Já estávamos bem no final dos anos 60.

Abrimos a Be-in (“estar por dentro”) que era uma loja de confecção só de bípedes (calças) para homens e mulheres.

Como não existiam celulares nem orelhões, a comunicação para falar com os pais era mais difícil. Perto da minha casa tinha um posto de gasolina onde eu podia telefonar quando quisesse. No escritório do posto estavam pendurados, com as pinups, os recortes de jornais.

Com quem? Com a Martinha de biquíni.

Na Revista do Globo também.

Na Manchete também.

Eu, na turma do Júlio de Castilhos, não sabia se ria ou se chorava. Sem contar os pretendentes que às vezes encontrava fazendo plantão na frente do meu edifício.

Porém, como tudo na vida, principalmente o sucesso, tem o lado bom e o mau, como ser totalmente feliz se as pessoas te veem como um corpo que, aliás, começou a me atrapalhar?


Eu não tinha como me perguntar: “E que corpo tem o meu próprio sucesso?”. O nosso querido Shakespeare começou a me formigar, o que naturalmente queria dizer: “to be or not to be, this is the question. Comecei então a me deparar com as primeiras escolhas.

Ao mesmo tempo, aquela menina, que sempre me acompanhou, tinha sede de saber, de entrar noite adentro a ler desde os clássicos portugueses até poetas como Manuel Bandeira; brasileiros como Graciliano Ramos com seus livros agrestes e nosso Erico Verissimo com seu épico do sul. Isso sem falar em Jorge Amado com seu Capitães de Areia, fora aquela, Dona Flor, que tinha dois maridos.

Do lado do meu pai, a história era mais aristocrática. Ele veio da Alemanha com 25 anos. Meu avô era um homem influente: distribuía farinha por toda a Alemanha (aliás, detalhes sobre essas ações dele eu não sei em detalhes). Hitler, depois de seis anos no governo, começou a perseguir os judeus, mas antes que o pior acontecesse, ele (o meu avô) pegou tudo que tinha de valor – joias, tapetes, etc. –, botou num navio junto com meu pai e minha tia. Ela quis ficar em Barcelona, e, ele, o Rudy, veio parar no Rio de Janeiro e depois acabou em Porto Alegre, sabendo que encontraria alguns amigos alemães por aqui.

Meu avô foi para um campo de concentração. Tinha um número no braço. No final de tudo, livrou-se do inferno e também veio para o Brasil para morar com meus pais.

Minha mãe, que era contadora de histórias, com sua especialidade em narrá-las por capítulos, só que dia a dia, seduzindo nossa curiosidade, mostrou-se para meu pai como uma boa comerciante, e, com seu próprio dinheiro, pelos anos 50/51, comprou um Morris preto, pesado (não existiam automóveis leves). E passamos a ir para a escola de carro. Eu no Americano e meu irmão, no Ipa. Isto não era nada comum na época.


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