“Run Forrest run”

E lá ia ele sem pensar em nada – apenas correr.

Durante a corrida, não se consegue fixar o pensamento enquanto não se chega no fim dela. O desfecho da prova é uma espécie de encontro, finalmente, com a consciência já acalmada.

Assim, quando se faz um exercício, vamos botando os barulhos mentais – “bagunça” – para fora.

Esse processo se chama meditação. No mind.

Por que Forrest Gump se tornou um mestre, seguido por milhares de pessoas sem saber direito para onde iam, um mestre aparentemente sem rumo?

Para lugar algum.

Apenas estavam indo.

Aquilo lhes fazia bem.

De cada filme ou livro que já passaram ante meus olhos, sempre guardo alguma cena que me marcou muito pela sua intensidade, pelo ensinamento que naquele instante (o de assistir ou de ler) fixou-se em mim de forma duradoura.

No filme Forrest Gump (1994), protagonizado por Thom Hanks, a amiga do anti-herói, não tendo outra alternativa para ajudá-lo, ensina-o a correr em momentos difíceis, já que sua inteligência (a de Forrest) era pouca.




Portanto, quando a situação exigia um pensamento intenso, quando era preciso equacionar ideias e achar uma resposta difícil, Forrest abdicava desta busca e, correndo, chegava mais longe.

A corrida dele era por amor à amiga, e o amor a gente nunca sabe quando e onde vamos encontrar.

Isso se chama destino... ou melhor, o kharma, que é o que tem que acontecer; já o dharma é o que vamos buscar para viver dentro deste kharma.

Eis como funciona a meditação: não se pode pensar.

Ou melhor, cada vez que entrar o pensamento, não se agarre a ele, apenas deixe-se ir como o rio que corre para o mar.

Ou como o vento que vem para afastar as nuvens.

Talvez pelo fato de estar sozinha, tive que aprender a andar nas próprias pernas: eu não podia pesar para meu acolhedor Zeka.

Esta consciência me obrigou a andar.

Run, Marta, run!

Um dia para lá, outro dia para cá.

Era uma delícia sentar num café em Saint Germain, sempre tinha um acontecimento novo, revelador.

Muitas vezes eu pedia para sentar-me à mesa de um velhinho, já com a intenção de travar uma conversa, uma troca de conhecimento, um caso que passou... na época da Guerra, o que houve com a família... um amor que se foi, e nunca mais voltou...

Embora este filme tenha sido produzido e exibido para o mundo todo só em 1994, 22 anos antes eu antecipava a odisseia deste anti-herói, despido da inteligência porém riquíssimo nos atos.

Ele atua como contador de histórias, e mostra uma inabalável fé de chegar até aonde nem suspeitava ser capaz de ir.

Naquele meu momento, sentada num parque perto do Louvre, nenhuma pena caiu no meu colo.

Senti, como num insight, que se eu não levantasse dali, ninguém o faria por mim. É como receber a camisa 10 e não passá-la para ninguém.

Afinal, não havia substituta para mim mesma!

Também estou me achando parecida com Forrest: virei uma contadora de histórias.

Eu não sabia até aonde ia chegar, apenas aprendi a viver o momento.

E o meu dharma era viver bem dentro dele.

Um pouco marota, um pouco cultural, meio louquinha, sempre me deixei andar.

E voooouuuu! (Eu voo.)

Minha curiosidade sempre correu muito mais que minhas pernas.


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1 comentários:

    Paulo Bentancur disse...

    Marta,

    que feliz conexão estabeleces entre o belo filme que marcou uma das gerações pelas quais atravessamos e o significado desse exercício "radical" de estar-no-mundo", que é a meditação. E quantas outras conexões também fazes (como tens feito em todas as tuas postagens, uma nos levando até a outra, pela mão e pelo coração). Teu blog é água pura no que, sem ele, poderia ser um "deserto de almas". Parabéns, guria! E obrigado por essa viagem sem-fim, por essa inteligência tomada de afeto e de humor além das grandes sacadas.

  1. ... on 29 de outubro de 2009 às 07:39