Se esta rua, esta rua fosse minha...
Eu mandava... eu mandava ladrilhar...
Com pedrinhas... com pedrinhas de brilhantes...
Para o meu... para o meu... amor passar...

Onde estava minha rua de brilhantes?
Foi a minha primeira tomada de consciência fora a rua tão alegre e tão linda, onde morava.

Além de cantar músicas lindas para mim, minha mãe cantava-me músicas lindas e também dizia:

"A vida não é um mar de rosas"

Pois é, andando por Vincénnes, naquele pátio preto de sujeira, eu pensava:Por que estes jovens estão tão revoltados, andando com estas roupas e capotes negros? O que  fizeram com eles? Quem os emporcalhou?

Ficava horas sentada num muro vendo e pensando na vida...

Voltava os pensamentos para o amado Brasil, ía até Porto Alegre e meu coração transbordava de amor e saudades da minha família e amigos que ali deixei.

O questionamento era a conciência que despertava, para entender o lado escuro da vida.

O maior vilão disto tudo é primeiramente a Política, junto com Poder, o Ego e a Vaidade.Estes sempre foram os atributos de políticos em que com pensamentos obscuros, não tem ojetivos em sua missão, preferem botar dinheiro nas cuecas e ir para Miami curtir milhonáriamente em suas mansões.  

Por isto, os pobres ficam cada vez mais pobres e os ricos, cada vez mais ricos.
Estes últimos são tão cegos, com uma vaidade tão grande, que esquecem que seu povo precisa comer.

Aí a Fome.

Estes vilões sempre existiram, desde que Moisés quebrou as Tábuas da Lei em cima da Monte Cião. Muito antes que eu apreendesse o que queria dizer Karma.

Quanto esta realidade estava distante do meu mundo, que era de Sol, Céu, Sul.

Talvez pela diferença do passado...

Diferentes fugas.

Meu pai  por ser judeu, veio de navio da Alemanha que  o nazismo o fizera fugir de de sua  terra. Trazia nas suas grandes malas de couro, jóias, tapetes persas, talheres de prata que eram da vovó Marta.

Já outros vieram vendidos em navios negreiros, tratados como bixos.

Tudo que poderia servir para ser lição acaba como lixo no poder.
Consciências obscuras, acham que enriquecer é ter jatinhos, piscinas, castelos etc...

Não sabem nem sentar numa mesa, e tudo que tem em volta é cafona, se a sala não tem acústica pra escutar as músicas que gostam, mandam comprar um caminhão de acústica.

Mal sabem eles, que nunca serão educados,que jamais conseguirão comprar a educação de berço.

Esta é inerente a pobreza ou a riqueza, Chamando-se caráter. Somente a conciência da simplicidade.

Ouvir o coração e agir de acordo com ele, qualquer que seja o risco, uma condição até de simplicidade absoluta, custando nada, menos que tudo.

Estas pessoas estão cegas, surdas e mudas para os seus corações.

Mas porque eu ali? Porque eu precisava conhecer este lado da vida?Parece que o futuro queria me dar esta lição.

Aos poucos fui entendendo melhor estas pessoas, que de guerrilheiros, dentro de mim, eles passaram a ser exilados.

Todos, muito saudosos de suas pátrias. Sofrendo a separação da proibição. Longe de seus familiares, de seus amigos, de seus negócios, suas casas, seus trabalhos.

Como estariam agora estas pessoas que no golpe de /64 perderam seus ideais? E no Brasil meus amigos que perderam a liberdade da informação? 

Um lado era maravilhoso, tinhamos o céu, tinhamos o mar e tínhamos a músca... com Elis Regina cantando:

"Eu quero uma casa no campo..."



Gil no exílio com Caetano incentivando os exilados que moravam na Europa a entender que era melhor dormir num sleep in bag, dizendo que quem não dormiu em um nem sequer sonhou...

Isso me fazia uma grande chamada para dar uma volta em Londres que era um outro exílio.

Pink Floyd dizia para conhecer The Other side of de Moon. Mas foi este que me ajudou a entender sobre a cultura da minha geração.


Eu e o Rony ( namorado) continuamos sempre fazendo aventuras.

 Um dia, fomos colher uvas num castelo no sul da França em que os donos tinham uma vinicultura.
Na época em troca do trabalho, ganhávamos cigarros, comida e alguns francos.

Quando vi que as minhas mãos estavam criando calos, desliguei da labuta e comecei a sair todas as manhãs bem cedo para conhecer a região.

Quase arrangei outros dois namorados...

O romantismo do momento fazia com que tudo aquilo se tornasse um cenário para o amor.

Admirava cada vez mais Josué de Castro, não porque entendesse tudo o que ele oferecia em matéria de sociologia, mas porque eu estava sentindo que este virus começava a brotar dentro de mim.

Claro,  na época sem tomar partido, pensava, se isto acontecesse eu não poderia mais entrar na minha patria. Mas a conciência do estudo me bastava, porque ele era como eu.

As vezes não tinha aula, as vezes tinha. Esta energia de pra lá e pra cá é a que eu levo na minha vida.

Caminho conforme o rio me leva...


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