Eu ainda tenho 23 anos e caminho pelos corredores de Vincènne.

Estou com saudades da minha amiguinha. Parece até que ela se recolheu por alguns tempos.

Sinto que talvez eu tenha assumido, ultimamente, novas facetas da minha personalidade.

Continuava o meu amor por Roni, cujo sentimento era uma explosão que saía dos meus poros.

Mesmo se ela estivesse ali, penso que não quer se intrometer.

Aqueles corredores obscuros, cujas paredes me faziam entrar na magia da vida, em alguma coisa mais profunda, alguma coisa mais pesada, era mais uma forma de crescer, de encontrar pessoas de uma raça que não conhecia ou de atirar flechas de coragem para conhecer este novo mundo.

Ali, estavam os guerreiros deste novo mundo, que se chama História. A história da política contemporânea.

Pensando bem, antes de nascer, o meu destino já estava traçado.

Já vinha de outras guerras, outras fugas, separações, abandonos...

Ai que raiva! Daquele psiquiatra de Porto Alegre, que falou que eu tinha que me conhecer...me encontrar...

Estava me procurando de lá pra cá, mas notava que cada dia eu precisava crescer... crescer...crescer...

Tá certo: a gente tem que se conhecer.

Mas, para que tanto conhecimento?!

Ainda andava pelos becos de Notre Dame, sentando sempre no mesmo Café da Place de La Contrascarpe, na esperança de ver novamente aqueles olhos de Orson Wells dizendo:

"...Aqui é o lugar!!! ... Sous le ciel de Paris...”

Conservava amigos como Natalie Hock, filha do dono da joalheria Cartier e Jean Cornier, chefe do jornal Parisien Libére.

A Natalie e eu, fazíamos ainda muitas aventuras. Íamos para Normandia nos finais de semana ou para Suíça durante a semana quando ela precisava trabalhar.

Certa vez fomos passar um final de semana num castelo em Veneza, de um nobre, amigo dela.

Nunca me diverti tanto!

Numa manhã, bem cedinho, resolvemos ela e eu perambular pelo castelo.

Ele não era muito grande, mas um castelo renascentista conservado com todo o requinte.

O mais impressionante era que cada sala tinha suas tapeçarias, seus pianos de caudas, seus brasões e todas tinham afrescos renascentistas belíssimos.

Havia uma que cheirava a tabaco. Acho que ali os homens se reuniam durante a semana para seus drinks e fumar seus charutos.

Esse ambiente era como uma taberna. Os tons dos afrescos nas paredes eram mais escuros do que as outras, tinha lindas mesas de jogos, talvez ali fosse o seu clube.

Na sala da música, as pinturas eram muito alegres.

Primeiro, visitamos uma ala, a destes pequenos salões. Aí, resolvemos entrar por uma porta enorme onde encontramos uma escada redonda que levava até uma torre pequena. Aquele caminho era, talvez, uma passagem secreta. Claro que para nós duas nunca existiam segredos.

Nossas almas galgaram afoitas aquela passagem...

Bem calmas abrimos a última porta que havia para um cômodo.

Ah, nos olhamos estarrecidas!

Ali, sentimos entrar em séculos!

Como se nós estivéssemos entrado na caverna dos tesouros escondidos de Ali Babá...

Haviam milhares de obras de arte! Quadros e mais quadros, obras de arte, peças em ouro, todas elas enconstadas na parede despojadamente.

Aquele ambiente era o quadro mais rico que ali existia...

Sentamos em alguns pequenos bancos folheados a ouro que pareciam terem vindo do oriente.

Ah, esqueci de dizer que este amigo da Natalie era marchand, junto com seu pai.

Sentadas ali, entramos num silêncio profundo.

Sem saber se estávamos no ontem, no hoje ou no amanhã... quem sabe...

À noite, encostada na sacadinha do castelo, olhando aquelas casas charmosas da rua, todas carregadas do estilo gótico me dei conta de que talvez eu poderia estar na sacada dos Capuleto!

Claro que pensei:

“...Será que o Roni não poderia aparecer lá embaixo, para tornar a história do Romeu e Julieta verídica?!”

- “Nada! Porque o meu Romeu não era italiano mas, alemão e estáva em Paris!”

E onde estava Natalie com seu terno Saint Laurent verde oliva?

Ouvi umas risadas que vinham da taberna.

E qual não foi minha surpresa!

Natalie junto com belos homens lhe fazendo a corte, fumando seu charutão Davidoff, tomando seu licor preferido Verveine, jogando dardos bem feliz...

Em copos de cristal bruto tipo Bacarat, resolvi experimentar pela primeira e última vez o absinto.

Meu Deus!!!

Será que tudo isso foi verdade???

Ou fruto daquela bebida diabólica?!

Natalie com seu charuto, alguns amigos e eu em uma festa






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1 comentários:

    clarice ge disse...

    amei a foto e a memória desse tempo

  1. ... on 21 de outubro de 2015 às 00:21